INTRODUÇÃO
Século após século, muita polêmica tem sido criada em torno do Nome de Deus e até mesmo seitas religiosas e a própria mística judaica, representada pela Kabbalah, foram criadas com a específica finalidade de descobrir o verdadeiro Nome de Deus e invocá-lo.
Essa é uma prática tão antiga que já é explicitamente mencionada no Livro do Gênesis onde, em Gênesis 4:26, lemos que, nos tempos em nasceu Enos, neto de Adão, se começou a invocar o Nome do Senhor.
Os judeus preferem referir-se a Deus como Adonai (Senhor) ou ainda na forma abreviada D´us encontrada nos textos da Tora judaica e em seus comentários e estudos. Já os cristãos dividiram-se em duas correntes: a católica, que se refere a Deus como Javé, e a reformada, que usa Jeová.
Recentemente essa controvérsia retornou, agora com respeito ao nome de Jesus, isto por conta de vários grupos e seitas diversas que alegam ser extremamente importante pronunciar-se o Nome do Senhor na sua forma correta, que não seria Jesus, mas sim Yeshua conforme alguns, Yahushua segundo outros, ou ainda Yahshua tal como reclamam outras vertentes, onde as justificativas são as mais exóticas possíveis, desde erros grosseiros dos tradutores bíblicos até mirabolantes conspirações de origem satânica.
Afinal de contas, qual a importância de tudo isso e quem está certo?
INVOCAÇÃO DO NOME: A ORIGEM
Conforme comentei na Introdução, a prática da assim chamada “Invocação do Nome” começou ainda em tempos adâmicos, por conta de Set e seus descendentes, a começar de Enos, conforme Gênesis 4:26.
A motivação para essa prática é a salvação, tal como declarado pelo profeta Joel:
“E há de ser que todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo porque no monte de Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como o Senhor tem dito, entre os restantes, que o Senhor chamar”. (Joel 2:32)
Segundo algumas vertentes da tradição judaica, essa prática perdeu-se com o passar do tempo e foi drasticamente interrompida pelo dilúvio, sendo que alguns crêem que Melquisedeque a teria ensinado novamente a Abraão, durante o episódio da ceia retratada em Gênesis 14:18-20.
De qualquer forma, certamente nos tempos de Moisés o Nome já estava novamente esquecido, pois o Livro do Êxodo nos mostra agora Moisés perguntando pessoalmente ao Deus Vivo qual o Seu Nome, isto porque Moisés já estava mergulhado no paganismo egípcio, embalado pela coreografia de múltiplos falsos deuses, cada qual com seu próprio nome.
Mas a resposta de Deus, tal como lemos em Êxodo 3:14, é muito clara, tão clara que até hoje ainda não consigo entender como tantos eruditos católicos e protestantes insistiram em ver nisso uma revelação do Nome: na verdade Deus simplesmente diz a Moisés que “ELE É O QUE É” ou “ELE É”. No velho hebraico ancestral não existem vogais, apenas consoantes e as sílabas eram pronunciadas conforme vogais específicas de acordo com o contexto da palavra e, por conta disso, essa declaração de Deus a Moisés surgiria algo assim como YHVH, uma vez vertidas as consoantes hebraicas para as correspondentes ocidentais mais próximas.
Quiseram então os eruditos católicos ver as vogais introduzidas na forma YAVEH, dando origem ao nome Javé como o Nome de Deus, já os eruditos protestantes, e por sua vez toda a linhagem evangélica de hoje, enxergaram as vogais introduzidas como YEOVAH, dando origem à conhecida forma Jeová.
Qual deles está correto? Qual das duas formas corresponde ao Nome de Deus?
A resposta é simples: NENHUM DELES!
Na verdade Deus está simplesmente dizendo a Moisés que ELE É O QUE É!
Deus está com isso revelando que o Nome é santo e não pode ser pronunciado por uma língua não santificada!
Isto surge de maneira magnífica no belíssimo episódio ocorrido com o profeta Isaías e por ele mesmo narrado em Isaías 6:1-8, onde o profeta fala da “língua impura”, uma língua que apenas se purifica novamente mediante a santificação, representada pelo toque da brasa que vem do Altar do Senhor.
Mas, por que isto?
Por que nossa língua se tornou impura diante do Senhor?
Porque Adão e seus descendentes próximos podiam pronunciar o Nome de Deus e Moisés já não podia mais?
A resposta para isso é simples: entre os primeiros descendentes de Adão e Moisés, existe um verdadeiro “abismo lingüístico” como eu costumo chamar, um abismo que nos isolou completamente da língua falada por Adão e seus filhos. Esse abismo foi causado por aquilo que eu comecei a chamar de “Síndrome de Babel” e que corresponde ao episódio da Torre de Babel e a criação dos idiomas do mundo, tal como se lê em Gênesis 11.
Adão e seus descendentes falavam a mesma língua dos anjos, o celestial idioma do Reino dos Céus, e assim podiam invocar o Nome. Adão conhecia Deus, sabia o Nome de Deus e podia falar a língua de Deus!
Mas, depois que Deus confunde a linguagem dos homens e os espalha sobre a terra, a nossa língua se tornou impura e inadequada para exprimir o Nome de Deus.
Por isso mesmo, ao discursar aos atenienses no Areópago, conforme Atos 17:15-34, o apóstolo Paulo identifica Deus com o Deus Desconhecido, ou seja, cujo Nome é desconhecido.
Neste ponto muitos dos leitores poderão argumentar com a objeção de que hoje Deus nos é revelado em Jesus Cristo e sobre isso estarei tratando a seguir.
JESUS CRISTO É O SENHOR
A velha polêmica sobre o Nome de Deus tem voltado agora no que diz respeito ao Nome de Jesus Cristo.
Neste ponto quero tratar de dois distintos enfoques da nossa referência ao Senhor.
O primeiro enfoque diz respeito à forma com a qual nós fazemos referência a Jesus Cristo em nossos textos, em nossos hinos de louvor e adoração e até mesmo em nossas orações.
O segundo enfoque é o da invocação do Nome, com a finalidade de nossa salvação, conforme lemos em Joel 2:32.
Aqui o leitor poderá também argumentar que nos dias de hoje, quando vivemos a Dispensação da Graça, tal recurso torna-se desnecessário, pois somos justificados pela fé, o que nos isentaria da invocação do Nome.
Afinal, o Nome é importante hoje?
A melhor resposta é: sim o Nome é importante!
Porém temos de avaliar o contexto em que pronunciamos o Nome do Senhor, pois existe a necessidade de traduzi-lo sempre que isso seja requerido, seja pela situação em que se aplica, seja pela finalidade da referência ao Nome.
Encontrei uma boa referência sobre o site http://askdrbrown.org/ , cujo responsável é muito experiente em teologia e linguagens bíblicas, e onde pode ser encontrado um excelente estudo sobre essa questão do Nome de Jesus Cristo.
Em resumo esse estudo diz o seguinte:
"O nome hebraico-aramaico original de Jesus é yeshu'a, que é uma forma abreviada de yehosu'a (Josué), assim como Mike é a forma reduzida de Michael. O nome yeshu'a ocorre 27 vezes nas Escrituras Hebraicas (Antigo Testamento), principalmente em referência ao sumo sacerdote após o exílio na Babilônia, o qual é chamado tanto de yehoshu'a (veja, por exemplo, Zacarias 3:3), como mais freqüentemente de yeshu'a (veja, por exemplo, Esdras 3:2). Portanto, o nome Yeshua's não era usual; na verdade, apenas uns 5 homens tinham este nome no Antigo Testamento. Foi assim que o nome se transformou em 'Jesus" em inglês: o yeshu'a hebraico-aramaico se tornou o grego Iesous, e depois o latino Iesus, passando para o alemão e finalmente para o inglês Jesus".
"Por que então alguns se referem a Jesus como Yahshua? Não existe absolutamente qualquer base para essa pronúncia - nenhuma mesmo - e digo isto como alguém que tem um Ph.D. em línguas semíticas. Minha opinião é que algumas pessoas zelosas, porém ignorantes em lingüística, acharam que o nome de Yahweh devia aparecer em alguma parte do nome de nosso Salvador, por isso escolheram YAHshua ao invés de Yeshua - mas volto a dizer que não existe qualquer base para esta teoria"
"Quanto à conexão que se costuma fazer do nome Jesus (do grego Iesous) com Zeus, esta é uma das alegações mais ridículas que já foram feitas, mas ela ganhou mais projeção nos últimos anos (a Internet é uma ferramenta maravilhosa para desinformar), e alguns crentes acham que não é apenas preferível usar o nome hebraico-aramaico Yeshua, mas que é realmente errado usar o nome Jesus".
"Na afirmação [de que o nome grego Iesous teria sido fabricado a partir do nome do deus pagão Zeus] há dois mitos: Primeiro, não existe o nome Yahshua (como já demonstrei) e, segundo, não existe qualquer conexão entre o nome grego Iesous (ou Jesus) e no nome Zeus. Nenhuma conexão! Tentar conectar o nome Jesus ao deus pagão Zeus seria como argumentar que Tiger Woods é o nome de uma floresta infestada de tigres na Índia ('tiger woods' em inglês significa literalmente 'floresta do tigre'). É um absurdo e baseia-se numa séria ignorância linguística".
O autor do texto continua argumentando que essas idéias têm tanto fundamento quanto afirmar que Elvis Presley está vivo!
Segundo Dr. Brown, o fato do nome Iesous – em grego - ter vindo da versão Septuaginta do Antigo Testamento já comprova de que não se trata de uma corrupção pagã no nome de Jesus, mas apenas a forma grega de traduzir o nome hebraico-aramaico Yeshua, até mesmo porque esse modo de traduzir Yeshua encontrado em hebraico no Antigo Testamento, para a forma Iesous no grego koiné, foi feito na Septuaginta, pelo menos dois séculos antes do nascimento do Cristo. Esta forma Iesous é também encontrada em mais de 5 mil manuscritos gregos do Novo Testamento e é encontrado também em textos gregos fora do Novo Testamento escritos no mesmo período.
Aqui eu acrescento ainda um outro exemplo bastante significativo: o nome Tiago, por exemplo, muito comum nos textos do Novo Testamento, transforma-se em James, ao ser traduzido para o inglês! Assim a Carta de Tiago transforma-se em “Letter of James” quando a mencionamos a uma pessoa que só entende o idioma inglês. É simples assim!
Assim não devemos nos preocupar em pronunciar o nome Jesus quando nos referimos ao Filho de Deus em nossas orações, hinos e textos, desde que não nos esqueçamos de deixar bem claro que não estamos nos referindo a um Jesus qualquer, pois esse era um nome bastante comum – naqueles tempos – em Israel e em toda a Judéia. Para que a nossa menção ao Nome seja completa devemos acrescentar Cristo, não como uma espécie de sobrenome, mas sim como um título único e exclusivo, outorgado por Deus ao seu Filho Unigênito.
Realmente devemos orar, louvar, testemunhar e adorar em nome de Jesus como diz o Dr. Brown, mas eu completo dizendo que todas essas coisas apontam não para um Jesus qualquer, mas sim para o único que detém um título, uma posição única diante do Pai Altíssimo, e essa posição é a de ser o Cristo de Deus. É a Jesus Cristo, o Messias, o Ungido de Deus, que devemos toda a honra, todo o louvor, toda a adoração, toda a ação de graças, porque é por Ele e para Ele que todas as coisas foram feitas.
A palavra Messias (em hebraico: משיח, transl. Māšîªħ, Mashíach, Mashíyach, "O Consagrado" ou "Enviado"; a forma asquenazi é Moshiach, e a aramaica é mesiha) refere-se à profecia da vinda de um ser humano (Filho do homem) descendente do Rei Davi, que levantaria Israel e traria a paz ao mundo.
Esse Filho do homem veio na pessoa do homem Jesus de Nazaré que é, ao mesmo tempo, o Jesus Cristo que é o Messias. A palavra "Cristo" (em grego Χριστός, Christós, "O Ungido" ou "O Consagrado") é uma tradução para o grego do termo hebraico mashiach, que é messias.
Em João 4:25, onde uma mulher samaritana comenta com Jesus que sabia que o Messias (que se chamava Cristo) estava vindo, e que quando viesse, nos anunciaria tudo, Jesus prontamente lhe responde: "Eu o sou, eu que falo contigo".
Resta-nos ainda um segundo, e inquietante, enfoque que diz respeito à invocação do Nome com a finalidade da salvação, conforme profeta Joel aqui já referenciado.
Aos que contra-argumentam dizendo que isso não se aplica mais ao contexto da Graça, lembro o discurso de Pedro logo após a infusão do Espírito Santo, no tremendo episódio de Pentecostes, e que está registrado em Atos 2:14:36, onde chamo a atenção, mais precisamente, para o trecho de Atos 2:17:24.
Aqui vemos Pedro repetir a todos que o ouviam pregar, cada qual simultaneamente em sua própria língua, as mesma palavras do profeta Joel, só que agora ele cita um trecho mais amplo e mais esclarecedor da profecia. Em Atos 2:18 vemos Pedro citar Joel 2:28, que é justamente a profecia sobre a efusão do Espírito Santo que viria sobre a Igreja, após Pentecostes, infusão essa que nos habilita a finalmente invocar o Nome do Senhor.
E por que precisamos da infusão do Espírito Santo para invocarmos o Nome? Não basta invocarmos o Nome de Jesus Cristo para essa finalidade?
As respostas para essa pergunta vão encontrar no último Livro da Bíblia: o Apocalipse e isso é muito lindo e extremamente simbólico, pois assim como Cristo é o Alfa e o Ômega, o começo e o fim, assim também a questão do Seu Nome se inicia no Gênesis e se encerra apenas no Apocalipse.
Ali, em Apocalipse 3:12, como parte dos méritos daquele que perseverar na Igreja verdadeira e na guarda da palavra de Sua perseverança, o Senhor Jesus Cristo deixa a promessa de que escreverá sobre ele o Seu Novo Nome. Mais à frente, em Apocalipse 19:12, João acrescenta que hoje ninguém conhece o novo Nome do Senhor Jesus Cristo: a não ser apenas Ele e aqueles a quem a Ele aprouver comunicá-lo.
E como colocamos isso em prática em nossa vida na Igreja?
Eu tenho uma extrema admiração e reverência para com a maravilhosa seqüencia dos capítulos 3, 4 e 5 do Evangelho de João, pois ali se resume tudo aquilo que temos procurado transmitir. Em João 3, Jesus diz a Nicodemos que se não buscarmos renascer da água e do Espírito jamais entraremos no Reino de Deus. Em João 4, o Senhor acrescenta, ao pregar para a samaritana, que essa busca acontece dentro de nós mesmos, em nosso templo interior e que não obteremos resultados nem em montes santos e nem em templos externos. Finalmente, em João 5, o Mestre que existe uma dupla condição para a redenção, algo muito mais amplo e abrangente que a simples doutrina da justificação pela fé, como já concluía o renomado teólogo Alemão Albert Scweitzer em sua impressionante obra “O Misticismo de Paulo, o Apóstolo”. Ali, em João 5:24, Jesus adverte que a nossa redenção depende não apenas da nossa fé, mas também do “ouvir da Palavra de Cristo”, a palavra viva e eficaz, que nos lava e nos purifica, conforme Paulo explica de forma surpreendente em Efésios 5:26, tal como água.
É essa lavagem pela água, através da Palavra de Cristo, que nos santifica e nos prepara para a infusão do Espírito Santo, que nos ensina todas as coisas, inclusive a nos expressarmos na língua-mãe, a mãe de todas as línguas, o idioma celestial onde finalmente iremos invocar o Nome do Senhor através dos gemidos inexprimíveis nos momentos em que oramos em línguas estranhas, conforme ensina Paulo em Romanos 8:26.
E como buscarmos por essa plenitude do Espírito Santo (Pleroma) que nos capacitará a invocar o Nome do Senhor?
Novamente é Paulo quem nos socorre com a regra do pleroma em Efésios 5:18-21:
E não vos embriagueis com vinho, em que há devassidão, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e pai, em nome de nosso Senhor Jesu Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus.
Assim deve ser a Igreja verdadeira, conduzir cada crente à unidade da fé e ao pleno conhecimento do Filho de Deus, em três ministérios que se sucedem e se complementam, da mesma forma que o sacerdote, no velho tabernáculo terrestre, tinha de passar por três ambientes distintos, antes de entrar na presença de Deus. Esses ministérios, hoje apenas parcialmente praticados são: o ministério do sangue, destinado à nossa justificação, o ministério da água, destinado à nossa santificação e finalmente o ministério do Espírito, devotado à nossa transformação.
Por isso João informa, em 1 João 5:6, que Jesus não veio apenas pela água, mas sim pela água e pelo sangue e é o Espírito Santo quem dá o testemunho no céu e o testemunho na terra. Cabe a cada um de nós despertar desse longo sono que o sistema religioso tem nos imposto ao longo dos séculos e procurarmos colocar esses ministérios em ação em nossas vidas.
Vamos nascer da água e do Espírito, para finalmente adorarmos a Deus em Espírito e em Verdade e invocarmos o Seu Santo Nome, porque sem santidade ninguém verá a face de Deus.
Foi benção em sua vida?
Quer saber mais sobre a aplicação dos três ministérios em nossa igreja e como isso pode ser realizado durante as reuniões?
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David C. Spadaro
IGREJA VERDADE DE CRISTO
(Uma igreja orgânica a serviço de Jesus Cristo)